Nayara Patracão sofreu complicações durante cirurgia em Descalvado (SP).
Família acredita em falha. Médico responsável por procedimento discorda.
“Dinheiro não me interessa porque não vou ter minha neta de volta. O que eu quero é justiça”. A frase de indignação é de Geralda Benedicta Patracão, avó da manicure morta em fevereiro do ano passado após ficar um mês em coma por complicações em uma lipoaspiração. O caso, que completa um ano nesta sexta-feira (7), ainda não teve um desfecho. Para a família de Nayara Patracão, houve erro no procedimento. O médico responsável pela cirurgia nega.
O cirurgião plástico Vicente de Paula Ciarrochi disse que qualquer falha no procedimento já teria sido apontada no exame de necropsia e também na investigação médica. “Eu tenho total sentimento de ausência de culpa. Meu único sentimento é de pesar pelo que aconteceu, isso me abalou muito”, afirmou o especialista ao G1 na quinta-feira (6).
O Conselho Regional de Medicina (CRM) abriu processo administrativo em janeiro de 2013 para apurar se houve alguma infração ética por parte do profissional, mas a sindicância ainda está em andamento e pode levar até dois anos para ser concluída. O processo corre em sigilo.
O advogado da família, Edevaldo Guilherme, relatou que a polícia já ouviu médicos, enfermeiros e testemunhas e que o inquérito será enviado ao Fórum de Descalvado na próxima segunda-feira (10). “A Promotoria vai analisar o material com as provas e documentação e então decidirá pela denúncia ou arquivamento”, explicou.
Morte
Nayara realizou uma cirurgia em Descalvado no dia 7 de janeiro do ano passado para a retirada de gordura na região das costas, mas sofreu complicações durante o procedimento de lipoaspiração. Segundo o cirurgião plástico, ela teve um mal súbito.
Transferida para São Carlos, a manicure chegou a ser diagnosticada com morte cerebral, segundo a mãe. Mas, uma junta médica contratada pela família descartou essa possibilidade no dia 16 de janeiro.
Dois dias depois, o diretor superintendente da Casa de Saúde, Fernando de Lucca, afirmou em entrevista coletiva que em momento algum foi constatado por nenhum médico do hospital que a manicure teve morte cerebral.
O cirurgião Ciarrochi Júnior avaliou que houve precipitação por parte da equipe médica ao informar à mãe que a jovem teve morte cerebral. Segundo ele, pode ter havido uma interpretação equivocada da família.
No dia 7 de fevereiro, a jovem de 24 anos teve uma parada cardiorrespiratória e morreu.
Erros
O pai da manicure, Marcelo Patracão, acredita que houve erro no procedimento adotado com a filha. “Ela não morreu em São Carlos, já saiu morta daqui [de Descalvado] no dia 7 de janeiro. Houve erro antes e depois da cirurgia. Ela não poderia fazer essa lipoaspiração uma vez que havia dado à luz oito meses antes”, disse.
Há um ano sem a filha, Marcelo espera que a Justiça seja feita para amenizar o sofrimento da família. “Não pensamos em pedir indenização em dinheiro, nunca foi a nossa intenção, mas se vier a calhar o que conseguirmos será para as crianças”, disse.
Atualmente, os dois filhos de Nayara, Kauê Henrique, de um ano e meio, e Luane Victória, de 6 anos, moram com ele. Marcelo contou que sempre leva os netos ao cemitério quando vai visitar o túmulo da filha.
“A lembrança dela não pode se apagar, tem que continuar forte na cabeça deles. Digo sempre que a mamãe está bem, olhando por nós, para eles saberem que tiveram uma boa mãe que amava os filhos, mas por infelicidade do destino todos nós perdemos”, relatou.