É a melhor parte de mim, diz mulher que trabalha como palhaça há 10 anos

É a melhor parte de mim, diz mulher que trabalha como palhaça há 10 anos

Webmaster 08/03/2017 - 07:55
No Dia Internacional da Mulher, Jana Galdi diz como é atuar com arte do riso.
Conheça a história da palhaça "Pipinela" e peculiaridades da profissão.



A artista de São Carlos [SP] Jana Galdi descobriu aos 12 anos que tinha talento para o cômico. Após fazer o primeiro curso de circo e se apaixonar pela figura lúdica e caricata do palhaço, ela deu vida à palhaça Pipinela, cuja missão é alegrar as crianças. “É a melhor parte de mim, me ensina todos os dias a ser uma pessoa melhor”, disse a artista de 35 anos. No Dia Internacional da Mulher, comemorado nesta quarta-feira [8], ela contou ao G1 sobre as peculiaridades da profissão.

Apesar de ministrar aulas de palhaço para o público infantil, Jana disse que adultos e pessoas da melhor idade também a procuram para participar das atividades. “A sociedade faz perdermos a essência e a autenticidade. Quem não é ridículo no mundo? Todos são. O palhaço trabalha com isso, aceitação do seu ridículo. As pessoas vêm para aceitar a si e ao outro”, contou.

Segundo ela, a descoberta da palhaça Pipinela também a ajudou a mudar padrões de beleza e de comportamento. “Na adolescência, eu não andava de um jeito feminino e tinha vergonha do meu corpo. O palhaço me ensinou a aceitar. A Pipinela, inclusive, anda bem mais exagerada. É muito legal usar essas características a seu favor”, afirmou.

Preconceito
Ainda que a figura do palhaço possa ser vista como a liberdade em pessoa e a ele tudo seja permitido, Jana relatou que ainda há preconceito na profissão por causa do gênero. No ano passado, quando foi ministrar um minicurso de circo para crianças no interior do Paraná, os dirigentes da instituição se surpreenderam.

“Nossa, palhaça mulher, nunca vi isso. Foi o que disseram sobre mim. O humor da mulher é diferente, se relaciona com o universo atual, questões de inserção na sociedade, as conquistas. O sexo feminino ainda sofre e a palhaça mulher é muito importante para criticar isso”, disse.

Jana lembrou que as palhaças mulheres começaram a surgir há 60 anos. No início, elas se vestiam e usavam nomes masculinos para conseguir subir aos palcos e picadeiros.

A atriz suiça Gardi Hutter, considerada a palhaça número um do mundo, foi uma das inspirações para a artista de São Carlos.

“Pude conhecê-la pessoalmente, ela é incrível e já está nesta estrada há tempos. Ela conquistou espaço e trata de diversos temas delicados, como, por exemplo, a morte", contou.

Trajetória
Jana cursou artes cênicas na Universidade Estadual de Londrina [UEL], no Paraná. Lá, conheceu um pouco mais da linguagem do clown, que usa elementos das apresentações de palhaços, como maquiagem, narizes vermelhos e figurinos coloridos.

Quando morou em Portugal, ela conheceu o grupo Operação do Nariz Vermelho, que atuava em hospitais, e se aprofundou nos estudos de palhaço. De volta ao Brasil, em 2005, fundou com dois companheiros de graduação em Londrina [PR] a Companhia Tokpotok.

“O foco sempre foi trabalhar com crianças, é a linguagem que me atrai, há inocência e verdade. O ser mais próximo do palhaço é a criança. Por isso, nunca tive dúvida do público que eu iria trabalhar”, contou a artista.

Em 2009, a avó de Jana, uma admiradora e apoiadora de seu trabalho, morreu. Desde então a artista mudou-se para morar com a família em São Carlos e levou junto a companhia, que em 2011 passou a se chamar Cia TPK. Hoje, ela trabalha com espetáculos infantis, recreação e festas.

Para ela, o caminho artístico é bem difícil, uma vez que o trabalho do artista no Brasil não é valorizado como deveria. Ainda assim, em meio às dificuldades, ela revelou que pretende ir adiante com a arte do riso. “Quero ser uma palhaça velhinha, pintar meu rosto enrugado, não quero parar nunca!”, concluiu.

*Sob supervisão de Fabio Rodrigues, do G1 São Carlos e Araraquara.

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