Mulher é “enterrada viva” em golpe do seguro de vida

Mulher é “enterrada viva” em golpe do seguro de vida

Webmaster 30/05/2017 - 14:12
Há tempos a reportagem vem acompanhando as apurações da Polícia Civil que investiga algumas pessoas em São Carlos que teriam se unido e montado um golpe para fraudar corretoras de seguro e com isto levantar com a falsa morte da ex-moradora de rua Cristiane da Silva, 39, entre R$ 800 mil a R$ 1,4 milhão com seguros de vida.

A outra parte da trama teria sido realizada na cidade de Descalvado, onde foram montadas as apólices de seguros que só não foram executadas e pagas devido a quadrilha descobrir que policiais do 2º Distrito Policial de São Carlos já estariam apurando o crime contra cinco seguradoras, um cartório de registro civil de São Carlos que recebendo documentos oficiais, mas fraudados teria expedido a "certidão de óbito" de Cristiane, que seria nascida e residente na cidade de Matão, onde após entrar no mundo das drogas resolveu deixar a família naquele município e se aventurar, passando a morar em ruas de São Carlos, onde acabou sendo envolvida no crime e hoje vítima da quadrilha é conhecida como morta-viva.

A Polícia Civil já identificou como mentor do crime um ex-agente funerário de 47 anos, que teria se unido a um corretor de seguros de 25 anos, que seria seu genro, a filha, uma dona de casa de 24, que seria a pessoa a receber o seguro de vida de Cristiane da Silva e um médico que prestava serviços na Unidade de Pronto Atendimento [UPA], da Vila Prado em São Carlos, o qual teria expedido a declaração de óbito oficial da unidade onde teria constatado falsamente que Cristiane da Silva teria falecido no início deste ano.

EX-MORADORA DE RUA

De acordo com as investigações, no mês de junho do ano passado, o ex-agente funerário de 47 anos, conheceu na avenida Doutor Teixeira de Barros, na vila Prado Cristiane da Silva, que relatou que seria natural da cidade de Matão, onde residiam seus familiares e devido ao uso de entorpecentes ela deixou o município e passou a viver nas ruas de São Carlos. Durante a convivência com moradores em situação de rua, Cristiane até deixou de usar drogas, mas, adquiriu o vício pelo álcool e acabou também perdendo os documentos e por várias ocasiões tinha crises convulsivas e em uma delas caiu na rua e fraturou a mandíbula e mesmo após passar por atendimento médico em São Carlos, ficou com sequelas e tem até dificuldades na fala.

Durante os vários encontros na rua "Larga", o ex-agente funerário de 47 anos, que já estaria conversando com parentes e amigos resolveu aproveitar sua profissão para montar um grande golpe contra seguradoras e com isto imaginava que poderia levantar um bom dinheiro, "matando" no papel a matonense que sem saber foi envolvida em uma grande trama para que a quadrilha usasse seu nome para angariar dinheiro.

DOCUMENTOS

As investigações do 2º Distrito Policial apontaram o ex-agente funerário teria se juntado com o genro, um corretor de seguros, que prestava serviços a uma empresa na cidade de Descalvado e ambos deram início a um plano que tinha tudo para dar certo, porém não contavam que a polícia acabaria descobrindo a trama. No dia 28 de junho de 2016, após se encontrar com Cristiane, dizendo que gostaria de ajudá-la, o ex-agente funerário a levou até o prédio do Poupatempo, instalado na vila Pelicano, onde ela deu entrada na segunda via de seu Registro Geral [RG] e outros documentos. No momento em que deixavam o prédio, o ex-agente funerário se apoderou do protocolo, dizendo que para facilitar a vida dela, ele próprio apanharia a documentação e a entregaria sem problemas.

Já no mês de outubro, ainda de 2016, o corretor de seguros adquiriu em nome de Cristiane da Silva, seis apólices de seguros de vida, montadas através de uma empresa instalada em Descalvado, cujos seguros foram firmados através de cinco operadoras e nestes documentos a pessoa que aparece como beneficiária seria a dona de casa, filha do ex-agente funerário, porém o endereço dela foi colocado como sendo a residência do médico.

DECLARAÇÃO DE ÓBITO

Como já tinha relacionamento de amizade com o médico de 29 anos, que prestava serviço na Unidade de Pronto Atendimento [UPA], o ex-agente funerário teria convencido o profissional da saúde a fornecer no dia 28 de janeiro deste ano a Declaração de Óbito oficial da unidade de saúde, na qual foi inserida o nome da moradora de rua Cristiane da Silva, cujo médico indicava e assinava o documento atestando que a ela havia falecido na residência de "morte súbita", em decorrência de várias doenças que a mesma havia adquirido. O médico para firmar a declaração e dizer que a não seria moradora de rua transcreveu na própria declaração o endereço do ex-agente funerário como sendo local em que Cristiane teria falecido, na noite do dia 28 de janeiro, por volta das 22h30.

SEPULTAMENTO

Com a declaração de morte clínica e documentação original em mãos, o ex-agente funerário preparou um caixão e pelo início da manhã do dia 29 de janeiro deste ano, deu início ao funeral de Cristiane, encaminhando ainda um caixão lacrado para o cemitério Nossa Senhora do Carmo, onde informava que o sepultamento teria que ser rápido devido as ordens médicas e apresentava como responsável pelo sepultamento sem o velório o corretor de seguros que efetuou naquela manhã o pagamento de R$ 131,92, referente as despesas do cemitério sem velório e adquiriu a sepultura 91 da quadra M-2, em parcelas a ser pagas no SIM, avaliada em R$ 1.548,18.

Após realizar todos os trâmites legais, apresentando inclusive ao atestado de óbito assinado pelo médico identificado da UPA, por volta das 9h15 daquele dia 29 de janeiro o enterro foi realizado e o caixão foi sepultado pelos coveiros do cemitério que não imaginavam a trama que teria por trás daquele enterro.

Já no dia 20 de março, a dona de casa de 24 anos, esposa do corretor de seguros e filha do ex-agente funerário, compareceu em um cartório de registro civil, instalado na vila Prado e registrou a morte de Cristiane, cujo cartório através de documentos originais e a própria declaração de óbito expediu para declarante [dona de casa], a "Certidão de Óbito".

INDICIAMENTO DA QUADRILHA

Quando os participantes da trama se preparavam para dar entrada no recebimento das seis apólices do seguro, teriam abortado a sequência do crime, pois tomaram conhecimento que os policiais do 2º Distrito Policial de vila Prado, no mais absoluto sigilo estariam averiguando a história da moradora de rua, a qual era dada como morta, porém estava viva e hoje não mora mais na rua e sim está amasiada com um homem na região sul de São Carlos.

Os policiais civis se aprofundaram nas investigações e após localizarem Cristiane ela contou sobre sua vida e seus documentos e a partir de algumas informações a Polícia Civil acabou identificando toda quadrilha que está sendo investigada e todos os integrantes do bando serão chamados para dar suas versões sobre o crime.

O delegado Walkmar da Silva Negré que está à frente dos trabalhos, no mês de abril, após identificar cada um dos envolvidos na trama macabra, indiciou o ex-agente funerário, sua filha, o genro e o médico nos crimes de Estelionato, falsidade ideológica e associação criminosa, bem como a autoridade policial representou junto ao Ministério Público Estadual [MPE] e Poder Judiciário pela exumação do caixão que está enterrado na sepultura 91 do da quadra M-2, do cemitério Nossa Senhora do Carmo, para que se possa saber quem ou o que estaria sepultado no lugar de Cristiane .

MORTA VIVA

No último final de semana a reportagem acompanhou Cristiane da Silva até seu túmulo no cemitério Nossa Senhora do Carmo, onde segundo os registros do cemitério e atestado de óbito oficial.

Ela fez questão de colocar a mão no túmulo e disse que foi uma sensação terrível. Cristiane disse que até agora para a justiça brasileira ela está morta e ela ainda disse que se sente uma morta-viva e exige justiça. A advogada Sandra Nucci que vem acompanhando Cristiane, disse que ela vai ter que provar á justiça que está viva. "Nós estaremos buscando os direitos de Cristiane, inclusive recuperando seus documentos e inicialmente vamos provocar a anulação da "Certidão de Óbito" que é um documento oficial, mas, foi expedido através de um crime", disse Sandra.

Na semana passada após analisar toda trama o poder judiciário autorizou a abertura do caixão, bem como determinou que para tal procedimento estivessem no local o delegado Walkmar da Silva Negré, seus policiais civis, coveiros e representantes do cemitério, além de advogados de Cristiane, o advogado representando os denunciados nos crimes, bem como peritos criminais, assistentes e um médico legista, para que pudesse no local analisar os possíveis restos mortais da pessoa que por ventura pudesse estar sepultada no lugar de Cristiane, a qual consta em autos oficiais que estaria "morta" e sepultada desde do dia 29 de janeiro de 2017.

Nesta terça-feira, por volta das 14 horas, após reunir seus policiais, peritos, médico legista, assistente e advogados o delegado Walkmar da Silva Negré do 2º Distrito Policial de vila Prado seguiu para o cemitério Nossa Senhora do Carmo, onde coveiros do cemitério abrirão a sepultara para ver o que há dentro do caixão. O São Carlos Agora está acompanhando os trabalhos. Mais informações a qualquer momento.

Fonte: São Carlos Agora

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