Manuel da Costa Pinto leva descalvadenses a “viajar” pela obra de Camus

Manuel da Costa Pinto leva descalvadenses a “viajar” pela obra de Camus

Webmaster 28/10/2010 - 11:09
Dando prosseguimento ao programa “Viagem Literária”, Descalvado recebeu o escritor e jornalista Manuel da Costa Pinto, na última quarta-feira (27), na Biblioteca Municipal “Gerson Alfio de Marco”. O convidado discorreu sobre a obra do escritor argelino Albert Camus (1913 – 1960), autor de diversos livros, dentre eles os clássicos “O Estrangeiro” e “O Mito de Sísifo”. Na platéia, alunos do curso de Letras, da Unicastelo, e munícipes em geral, totalizando aproximadamente 200 ouvintes.

Manuel da Costa Pinto é mestre em Teoria Literária e Literatura Comparada pela USP (Universidade de São Paulo). Atua na Folha de São Paulo e apresenta os programas Entrelinhas e Letra Livre, exibidos pela TV Cultura. O escritor foi recepcionado pelo prefeito Luís Antonio Panone e pela secretária de Educação e Cultura, professora Rosinês Pozzi Casati Gabrielli.

Panone abriu o evento enaltecendo o autor, afirmando ser o encontro “um momento mágico. Manuel é um escritor no sentido lato da palavra e sua presença em Descalvado nos honra sobremaneira. Não é à toa que essa sala está lotada”. O prefeito elogiou o trabalho que a professora Rose e os demais profissionais do ensino estão realizando, destacando “que a Educação, em nossa cidade, se escreve em letra maiúscula e tem um lugar de destaque em nossa administração. Eu acredito que a transformação vem a Educação”.

O palestrante agradeceu a acolhida e afirmou que Albert Camus é um caso exemplar de quem teve a vida modificada pela Educação. O argelino era filho de família pobre, perdeu o pai com apenas um ano de idade. Na escola primária, um de seus professores percebeu que Camus tinha um futuro promissor, tanto que acabou se formando em Filosofia. Com a saúde fragilizada, Camus não pode prosseguir com a carreira acadêmica, ingressando no jornalismo – onde produziu reportagens importantes.

Camus, de acordo com Manuel Pinto – que estuda há 20 anos a obra do autor -, sai da Argélia e parte para a França, se engajando na luta contra o nazismo, participando da resistência francesa. Funda o jornal “Combat” e estréia literariamente com os clássicos “O Estrangeiro” e “O Mito de Sísifo”, que transformaram o panorama da literatura francesa, se transformando em companheiro de viagem dos existencialistas Simone de Beauvoir e Jean-Paul Sartre – porém sem se afinar com a filosofia existencialista, a chamada “literatura engajada”.

“Camus jamais colocou a literatura dele a serviço de uma causa. Sua preocupação era lutar contra o Totalitarismo. Em seu romance ‘A Peste’ ele faz uma alegoria sobre uma situação de opressão vivida pela França ocupada pelos nazistas”, contou Manuel.

“Nesse momento ele se torna um escritor conhecido internacionalmente, e parte para uma viagem pela América do Sul, recusando-se a ir ao Chile, pelo fato de o país estar sob regime militar. No Brasil, fez amizade com vários intelectuais, dentre eles Oswald de Andrade. Camus escreve o conto ‘A Pedra que brota’, em ‘O Exílio e o Rei’, ambientado em Iguape (SP), uma espécie de diário de viagem dedicada 80% ao Brasil – uma das poucas obras do autor que não são ambientadas na Argélia”, disse Manuel.


O reconhecimento definitivo veio em 1957, com Camus recebendo o prêmio Nobel de Literatura, que para muitos foi uma espécie de Nobel da Paz. O escritor argelino – o segundo mais jovem a receber a láurea – se opunha à guerra entre a França colonizadora e a Argélia. “Por essa oposição, Camus foi escorraçado pela esquerda francesa, chegando a ser taxado de fascista”.

Em 1960, Albert Camus tinha uma viagem marcada para Paris, de trem, juntamente com o poeta René Char. A passagem já estava comprada, mas o escritor foi convencido pelo editor Michel Gallimard a ir de carro. Diante da insistência do amigo, Camus cedeu. Às 13h55 do dia 4 de janeiro, o carro em que viajavam se espatifou numa árvore. Gallimar e Camus morrem. Terminava ali a literatura de Albert Camus.

Manuel ainda discorreu sobre o romance “O Estrangeiro”, em que o personagem, Mersault, - “um homem comum, sem ambições e que não assimilou as vicissitude que o dilaceraram’ - mata, com frieza, sob o forte sol argelino, um árabe. Segundo Manuel, o personagem de Camus passa da casualidade à tragédia, seguindo a linhagem da mitologia grega. Há, no romance, “a falta de sentido em tudo”. Camus faz Mersault viver uma situação de absurdo, sem culpas por seus atos, e nos dá essa sensação de absurdo. “O Estrangeiro” é uma tragédia solar, segundo Rolando Barthes”, disse o convidado.

Por fim, depois de quase duas horas de explanação, Manuel da Costa Pinto diz que a obra de Camus possui “uma economia formal e precisão estilística”. Aplaudido ao final, o escritor e jornalista respondeu a perguntas da platéia.

Próximo – O escritor Nelson de Oliveira é o próximo convidado do programa “Viagem Literária”, que acontecerá na Biblioteca Municipal, no dia 3 de novembro, às 19h. O convidado oferecerá uma oficina de criação literária.




Logo do Facebook Deixe seu comentário